Sentou uma – levantou uma. Sentou duas – levantou duas. Sentou três – levantou três.
Partiu apressado, agarrado a sua bolsa transversal, por pouco não tropeça em seus cadarços desamarrados de seu All Star vermelho. Um homem atrás de mim ao telefone o observava espantado. As pessoas entravam e saiam dos vagões e o observavam, desnorteadas e confusas. Eu lia meu livro. Não consegui prestar atenção nas palavras, o senta-levanta, senta-levanta me deu nos nervos. A cada movimento, o zíper da bolsa batia no banco de alumio e fazia um barulho alto, e isso me irritava profundamente.
Um homem cego passou totalmente perdido com sua bengala prateada, tentando caminhar em cima da linha azul ao chão, que serve como guia para pessoas com deficiência visual. Ele não conseguia, rodava feito pião. Pessoas batiam no seu braço esquerdo e ele rodava. Pessoas davam um tropicão em seu braço direito e ele rodava. Ele rodava, rodava, rodava… como um pião daqueles antigos de madeira.
Depois de algum tempo rodando, duas almas caridosas se ofereceram para guiar o senhor da bengala prateada. Uma moça estendeu o braço esquerdo e com a mão direita o senhor tocou levemente em seu seio esquerdo. Desculpou-se, desceu para o braço. Sorriu.
O rapaz com toque se levantou pela ultima vez, ultrapassou o senhor que não enxergava. O ultrapassou uma, duas, três vezes, e depois seguiu com seus cadarços desamarrados.
Voltei para minha leitura: “E então todos se foram. Liguei a mangueira novamente e continuei a regar as roseiras.” “as roseiras” “as roseiras” “as roseiras.”
Que pequeno trecho de realidade tão cativante. cativante. cativante. 😉
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Gracias 🙂
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Minina, gosto muito de ler suas histórias!
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Grata por seu comentário meu caro. Tenha um excelente dia!
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