Os dentes são espirrados da boca e postos novamente no lugar com uma das mãos. A outra mão segura um cigarro de filtro vermelho por entre os dedos. No bigode, resquícios de cinzas. Pele perfurada por acnes brutais, revestida em grandiosas crateras. Olhos amarelados caídos. Sobrancelhas grossas e juntas de Frida. Lábios finos em cima, um pouco grossos embaixo. Toda uma carcaça envelhecida pelo tempo e pelos raios quentes do sol.
Um trago no cigarro. Dedos que ajustam dentes e amaciam gengivas. Uma tosse seca. Um pigarro esverdeado. As costas das mãos limpam um pequeno resquício de mucosa em um dos cantos da boca. Um cachorro late. A senhora sentado ao seu lado berra:
– Velho, quando será que a gente morre?
– Bom, pela posição do sol, tudo indica as quatro e cinquenta e sete.
– Sua dentadura tá caindo da boca de novo.
– Eu odeio esses dente falso, tá sempre caindo tudo.
– Ei moça, você ai do Black. Que horas que é agora?
– Quatro e cinquenta e sete.
– Ih velho, será que é agora?
– Tomara veia. Tomara.
Segui meu caminho, andando lentamente pensando nas horas…
Delícia de texto!
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Que complexo..
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Tic tac… parou ou não o maldito carrilhão?
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