Trago lágrimas pesadas em meus olhos. Se respiro profundo demais, três ou quatro lágrimas escorrem. Se penso demais na vida, lágrimas se transformam em rios nunca antes habitados.
O sol se faz presente. Preciso do fundo de meu útero ficar o mais distante da realidade. Penso na desigualdade do mundo, na minha carcaça não mais seminova, no embrulho no estômago ao lembrar que a vida é uma merda fétida no solado de meus tênis sem sola, desgastados pelo intenso uso dos mesmos.
Observo minhas cutículas recém feitas e uma saliva pegajosa gruda no céu da minha boca. Meus pulmões vêm apresentando falhas recentemente, mas eu vivo fingindo que estou tão bem quanto a dez anos atrás quando eu era um pouco mais jovem do que sou agora.
Fios brancos surgem em minha cabeça e em minha buceta. Meu tornozelo direito dói desde ontem. Aviões passam por cima de minha cabeça e eu sempre acho que bombas nucleares acabaram com a hipocrisia de mundo que eu me encontro.
Nesta madrugada enquanto eu passava pela segunda semana consecutiva de insônia, pude ouvir um morador de rua dizer:
– Quem pregou Jesus na cruz? Ei, você viu? Ele colocou a língua na vagina dela.
A lua brotou na meia fresta que se fazia em minha janela. Conversei com a lua entre lágrimas e dores no peito. Dores em meus parafusos. Dores emocionais demais para serem deixadas por aí tão soltas.
Acordei razoavelmente cedo. Tomei uma cerveja que trazia ao rótulo: EXTRA FORTE. Eram 10h da manhã.
Carolina tomou café preto. Eu chorei no banheiro enquanto cagava e ela lavava a louça de ontem a noite. Ela não sabe que eu chorei. Espero que ninguém lhe conte.
Preciso ir ao banco pagar a mensalidade da faculdade com quase vinte dias em atraso. Odeio o maldito sistema capitalista.
O álcool acabou. Maldita depressão do caralho em plena segunda-feira.
Forte.
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