Querida Ana!
Aproveitei a solidão da tarde de domingo para te escrever. As nuvens tomaram conta do céu em seu tom azulado escuro e o cheiro que a terra exalou me lembrou você.
Juro que pensei na singeleza dos seus passos sobre a areia branca da praia e do canto do seu mar, mas aqui, eu tenho além do voo do beija-flor, a chuva que começa a cair. O cheiro é a coisa mais surreal do mundo! Como pode a gente sentir vontade de repartir esse cheiro com alguém, Ana? Você pode responder?
Os cheiros fazem parte de mim… desde pequena, essa mania de sentir a presença de alguém, de reviver momentos são ritmados pelos cheiros.
O pão caseiro da vizinha e o cheiro a invadir os quintais é de suspirar e a vontade é atravessar o portão e ir lá ganhar um pedaço. A torta de banana da padaria da esquina é de enlouquecer, Ana! Não sou muito fã de torta de banana, mas o cheiro dela é emocionante. O cheiro da rapa do arroz de minha irmã é quase uma volta ao passado, lá na infância, quando minha mãe parecia alquimista na beira do fogão de lenha a assar os bolos para o chá.
O café, na madrugada a exalar seu cheiro enquanto me levanto. Chego a jurar que é na casa do senhor Wilson. Nunca bebi café lá, mas já sorvi todos os cheiros do café dele.
Agora, o que queria dividir com você é esse cheiro de grama molhada no quintal e a tarde mansa que descobre em mim a saudade.
Saudade tem cheiro, Ana? Ah, acredito que não, pois se tivesse teria o cheiro do seu perfume.
Beijo meu.
Mariana
PARA LER OUTROS TEXTOS DA AUTORA, MARIANA GOUVEIA
Duvido de tudo que dos olhos vem,
Não sei escrever poemas de amor,
Duvido da matéria que compõe
O universo, das flores o cheiro
Mas não da natureza e deliro
Quando escrevo estando muda
Esta, mas das flores não duvido,
Duvido se os poemas de amor
Existem mesmo ou onde moram
Na ciência dos sonhos que descrevo
P’los perfumes que não sinto, d’lírios
Em flor, não sei mais fazer poemas,
Seja de amor ou sobre-o-que-for,
Duvido de tudo que dos olhos vem,
Ou nos braços repouse, da existência
E das romãs, apesar da cor a sangue,
Apenas num algoritmo acredito,
Que é ser viva a natureza e pródiga
A substancia que habita o universo
E em mim mesmo, não sei escrever
Poemas de amor, duvido crendo …
Joel Matos (03/2017)
http://joel-matos.blogspot.com
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bela missiva, cara mia.
ah, nem vou me estender por aqui ou acabo a escrever-te como resposta, e já começo a pensar em ingredientes, latas e coisas do tipo… rs
bacio
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eu poderia escrever outro desafio só com os cheiros que me levam a ti.
Os cheiros de tua cozinha, de teu banheiro, de tua rua, do primeiro abraço no aeroporto lá em 2015, no primeiro encontro… dos cheiros dos papéis enquanto Marco imprimia o primeiro O Lado de Dentro…
Ah! Sou quase eu a escrever uma carta!
Grazie tanto e sempre!
Bacio
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Coisa mais linda esse texto Mariana! Daqui, senti todos os cheiros descritos por você; Ahhh! Bom demais!
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Adoro o estilo Mariana de escrever!
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Eu também. Vitória, queria muito ter participado esse desafio mas estou tão ocupada aqui no trabalho que não estou tendo tempo livre pra escrita. Quem sabe numa próxima.
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Oportunidades não faltaram, Roseli. Espero que no próximo você possa participar!
Tenha um ótimo 😘
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eu adoro essa liberdade exposta aqui! Grata!
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Roseli, minha linda! Grata imensamente! Beijo carinhoso
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Ah, fiquei linda aqui!
Grata, minha flor! Beijo
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Agradeço imensamente sua participação neste desafio e sua abertura ficou encantadora Mari. Gratidão ❤️
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eu quem agradeço, linda! Beijo carinho e mais uma vez, obrigada!
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Republicou isso em O Outro Lado.
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